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Qu'est-ce que tu sens / O que é que você sente — Michel Deguy

Foto do escritor: Marcelo Jacques de MoraesMarcelo Jacques de Moraes

Atualizado: 18 de fev. de 2022

Traduzido por Marcelo Jacques de Moraes em conjunto com alunos numa disciplina da pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ.


A vista expande o infinito

Me lança à embocadura do mundo

Imparcial entre Vega e o ácaro

De tão longe de tão perto

Reconhece as coisas

​gnosias de mundo

Os olhos se habituam à luz

Ao olhar falta o tato

Eu não vou crer se não tocar

​Aproxima-te

O gosto da boca é para amar

​Isto é teu corpo

O fruto bem na boca

​Ingere a terra

Crer é crer ouvir

e ouvir-se ouvir

Pelo audito interiorizo o inaudito

​O som pode virar sentido

E a voz ressoar a de não ser ninguém

​voz sem voz

O sentir enseja aroma

O que odora se lacera

entre os dois confins

Inferno e Paraíso que cingem nosso purgatório

O fétido e o suave

a chuva de rosas e o pútrido

​sente-se

O bom e o mau cheiro

Sensações dos cinco?

E o comum até a sensibilidade...

Não fosse o coração sensível

nenhum dos cinco se abriria à vida

mais invasiva que a sensação

Cega surda em dor a an-

estesia nos cerca

é o envilecimento

dizia o coração desnudado

que nos priva da criação



Michel Deguy (1930), poema publicado em La vie subite (Galilée, 2016).



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